A política nepalesa acaba de ganhar um novo capítulo — e ele foi escrito em um servidor do Discord. Em meio a protestos violentos que tomaram conta do país, a Geração Z encontrou no aplicativo de comunicação gamer um espaço para se organizar, debater e, surpreendentemente, votar informalmente na nova liderança do Nepal.
Na sexta-feira (12), o gabinete da presidência confirmou a nomeação de Sushila Karki como primeira-ministra interina, após seu nome ser indicado por uma votação realizada em um servidor do Discord com mais de 100 mil usuários nepaleses. A movimentação foi acompanhada em tempo real pela TV estatal, evidenciando o poder de mobilização digital da juventude.
Karki, de 73 anos, é uma figura respeitada no cenário jurídico do país, sendo a única mulher a ter presidido a Suprema Corte do Nepal. Ela assume o cargo após a renúncia de K.P. Sharma Oli, pressionado por uma série de manifestações que culminaram em incêndios em prédios públicos e residências de ministros.
A crise política foi intensificada pelo bloqueio de redes sociais como Facebook, Instagram, YouTube e X, imposto pelo governo sob a justificativa de combater crimes digitais. A resposta da população foi imediata: protestos massivos liderados por jovens tomaram as ruas de Catmandu e outras cidades, com o slogan “Bloqueiem a corrupção, não as redes sociais”.
Segundo a agência Reuters, os confrontos deixaram 72 mortos e mais de 2.100 feridos. Diante da pressão popular, o presidente dissolveu o Parlamento e anunciou novas eleições para março de 2026.
O caso do Nepal mostra como a tecnologia e a juventude podem redefinir os caminhos da democracia — mesmo que de forma informal. O Discord, antes visto como uma ferramenta para gamers, tornou-se um símbolo de resistência e organização política.